Janaine S. Freires Aires
AMARAL, Marcia Franz. Jornalismo Popular. São Paulo: Contexto, 2003

Amaral defende a possibilidade de
uma imprensa popular de qualidade, viabilizada pelo desenvolvimento de um
jornalismo ético que aperfeiçoe suas técnicas de comunicação com seu público,
mas que não fique refém dos requisitos do mercado. Além da crença nesta
possibilidade, há a perspectiva que considera pouco produtivo denominar de
sensacionalista a infinitude de práticas envolvidas no processo de produção. O
que significa que, mais do que condenatório, o termo, para ela, seria
reducionista.
Considerando a possibilidade de
construção de uma imprensa popular de qualidade, o livro associa o que prefere denominar
de jornalismo popular de didatismo da linguagem jornalística e, por vezes,
indica caminhos para a consolidação de uma postura ética para a consecução de
um jornalismo voltado para as classes C, D e E de qualidade. É nestes momentos
que o estudo adquire um tom de manual voltado para o processo de formação de jornalistas,
apontando o perfil do profissional da área a necessidade de adequação do
projeto gráfico e das capas e manchetes. A pesquisa aponta, por outro lado,
para um dado geralmente esquecido: sem viabilidade econômica, o jornalismo
popular não é acolhido nas grandes empresas, e tenta responder “como
corresponder aos preceitos éticos e ao mesmo tempo ser viável para uma empresa
que busca o lucro?”
Acredita-se que há viabilidade
para que as empresas jornalísticas possam fazer um jornalismo com vínculo
social. As estratégias de aproximação com o leitor, que caracterizam e são os
principais alvos de críticas dirigidas a este tipo de jornalismo, são
inevitáveis, mas precisam ser aprimoradas. A postura radical que parte da ala
crítica cobra deste tipo de jornalismo é missão, segundo a autora, de produtos informativos produzidos pelos
movimentos sociais e que dificilmente serão acolhidas por uma empresa
jornalística pautada pelo lucro.
Contudo, tal concepção de
jornalismo popular subestima, de certo modo, o papel criminalizante da pobreza
que estes produtos têm assumido. Muito embora exista de fato a necessidade de
uma compreensão e esforço de pesquisa em torno de produtos voltados para as
classes C, D e E, a retirada da denominação “sensacionalista” pode acarretar em
uma perspectiva que torne inocente este modelo de produção jornalística. Mais
do que uma estratégia de aproximação com o leitor, o jornalismo sensacionalista
tem colaborado com o processo de criminalização da pobreza, com uma compreensão
equivocada dos Direitos Humanos e com o esvaziamento do papel do Estado. Mesmo
que tais questões não resultem somente dos processos comunicacionais. Este processo não se reverte com a "vigilância da linguagem", mas com medidas mais complexas e que não estão somente sobre as capacidades das empresas, posto que são de responsabilidade do Estado, do mercado e de toda a sociedade.
Dificilmente no contexto de uma empresa que
busca lucro, em um ambiente pouco regulamentado e com poucas ferramentas de
fiscalização, a ética será resultado do aprimoramento de técnicas. Entretanto,
é salutar apontar a necessidade de um acolhimento editorial de outras vozes,
como afirma Márcia Franz Amaral, bem como a aplicação de uma linguagem
jornalística com uma inflexão mais didática, característica do que se argumenta
como “Jornalismo Popular”.