Porém, há outra face da instrumentalização
dos meios de comunicação que precisa ser pensada: a candidatura de
comunicadores a cargos públicos. É sobre ela que pretendemos refletir agora. A
realidade não é exclusiva do estado, mas a lista de profissionais de
comunicação paraibanos que se candidataram é extensa e, até certo ponto,
diversificada.
Apelando para a memória podemos
apontar Salles Dantas; Jota Júnior, que foi eleito por dois mandatos à
prefeitura de Bayeux, e fez do palco do Correio Verdade o seu gabinete de prefeito; Estela Bezerra, candidata à prefeitura de João Pessoa em
2012; Nonato Bandeira, que candidatou-se e ganhou a vice-prefeitura da capital;
o radialista Jota Ferreira; e mesmo o repórter Jonas Batista. Temos aqueles que
anunciaram candidatura mas não prosseguiram (pelo menos por enquanto) como
Samuka Duarte, seu filho Samuka Filho e Emerson Machado, mesmo atuando
fortemente na campanha vitoriosa do vereador Djanilson Faca Cega, uma espécie
de personagem dos programas apresentados por Samuka. Temos também um caso
especial que pode nos ajudar a refletir sobre toda a conjuntura: Fabiano Gomes,
que entrou na corrida eleitoral muito tempo antes da largada. Inclusive como o aval do governador Ricardo Coutinho, que o escolheu como seu elo com a região de Cajazeiras.
O ingresso de um candidato na
vida política não costuma se dá apenas durante o período eleitoral. Alguns
surgem porque herdam no sangue o “passe” que o habilita a participar do jogo
político, outros vão enfrentar um processo mais longo em que a inserção na
comunidade é instância chave. Mas no contexto contemporâneo, caracterizado pelo
processo de midiatização da sociedade e especialmente pela centralidade da
televisão, um importante fator para o acesso ao jogo político é a comunicação.
Ninguém mais ciente disso do que um comunicador.
Ainda falta bastante tempo para que o cenário para as disputas de 2014
estejam definidos. Tamanha exposição da candidatura de Fabiano pode significar
somente uma estratégia de auto-valorização. Fabiano Gomes tem se tornado um
expert neste sentido. Dono de um portal de notícias especializado na cobertura
política, o PoliticaPB, e de uma revista também do segmento, Politika, Fabiano
pode não ter o carisma de outros comunicadores do estado, mas tem ferramentas
tão importantes quanto que podem o eleger. No comando do programa televisivo Correio da Manhã, o
radialista cajazeirense acumula também as funções de diretor de Radiojornalismo
do Sistema Correio de Comunicação e a apresentação diária da versão
radiofônica do programa Correio Debate.
Não se trata necessariamente de uma
tática de manipulação para a conquista de votos. O estudo das estratégias de
eleição de comunicadores, desenvolvido pela Professora Dr. Márcia Vidal Nunes da Universidade Federal do Ceará, aponta a mistura da identificação dos interesses do povo com o domínio da
linguagem midiática para a construção de um discurso político como fórmula de
garantia do acesso à esfera política. Nos casos estudados por ela, a
intervenção dos comunicadores nos fatos da nossa vida cotidiana é o próprio
fato político, o discurso político é veiculado na mediação dos acontecimentos que
sua atividade profissional promove diariamente.
O interessante é que nesse caso a mediação em
que Fabiano Gomes se aloja não se dá em torno da identificação dos interesses
coletivos propriamente. Mas sim no encaixe do radialista, propiciado pela
posse e o comando de meios de comunicação que ele detém, no jogo político.
Queremos dizer com isso, que a base para sua possível candidatura não é o carisma e,
talvez, nem mesmo a audiência (embora também se configure como um elemento
fundamental), e sim os laços que ele estabelece com grupos políticos
tradicionais do estado. Uma base que traz sérios riscos para uma concretização vitoriosa do pleito, principalmente pelos contornos arrogantes de uma postura inflexível em torno do interesses particulares dele e daqueles grupos.
Fabiano foi peça importante na
guinada editorial que o Sistema Correio de Comunicação foi obrigado a adotar
com o fim da Era Maranhão e continua sendo. A Revista Politika, embora seja uma
experiência editorial importante e tenha trazido matérias salutares para o
debate público, é resultado de relações de reciprocidade entre Fabiano Gomes e
grupos políticos do estado. O jornalismo investigativo promovido, sob o abrigo
dessas relações, está reduzido a divulgação de dossiês de denúncias de um grupo
político contra o outro. Falamos, portanto, de um exercício de jornalismo
político aliado a um grupo político e não desconfiado com relação a eles.
As relações de reciprocidade com
as quais Fabiano sustenta sua atividade profissional o fazem, atualmente,
praticamente um porta-voz do Governo Estadual de Ricardo Coutinho e do Senador Cássio Cunha Lima. Fabiano, ao lado de outras lideranças políticas, tem sido considerado soldado fiel do programa de governo. É
sobre estas bases que o comunicador tem anunciado sua candidatura. Em
entrevista ao repórter Perreira Júnior, Fabiano destacou “coloquei meu nome à disposição dos amigos. Quando falo de amigos, falo de Carlos Antônio
[ex-prefeito de Cajazeiras] e Denise [esposa e atual prefeita da cidade] é como
se fosse uma segunda mãe. Com Cássio tenho uma relação de muito tempo, que a Paraíba inteira conhece. Eu
acredito que estes meus amigos merecem um legítimo representante na Assembleia.
Diante disso estou colocando, sim, meu nome à disposição. Vou disputar com
humildade...". Nessa mesma entrevista, disponível aqui, Fabiano anunciou a instalação de
uma rádio na cidade, a Nova FM.
Janaine Aires é jornalista, mestranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura, membro do Observatório da Mídia Paraibana e do Coletivo COMjunto.